Carpe diem

Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje, ouviu Domingo berrar dentro da sua cabeça, quando o despertador o arrancou do sono como um choque eléctrico. Os seus olhos foram tropeçando pela penumbra quente do quarto até encontrarem, na nesga de sol que se esgueirara pela brecha da janela, a confirmação de que já passava das sete. Domingo ignorou o torpor nas pernas, as juntas emperradas de quem já não tinha vinte anos, ergueu-se da cama como se tivesse molas. Tanta coisa para fazer, recordou, a navalha na cara. A maldita mania de deixar tudo para depois. Domingo, que nunca na vida fora desses, nos últimos meses deixara-se cair naquela moleza, naquele desânimo. O que diria Glória se o visse assim. Mas Glória já não diria nada, era escusado. Por isso, iam ver, hoje tudo ia ser diferente. Hoje. Não passava de hoje. Luzia e Mariana limparam as mãos no avental e correram à sala assustadas, quando ouviram o barulho. Encontraram Domingo martelando a dobradiça da porta, que havia m...