O maior do mundo

Era, de facto, o maior coleccionador do mundo, na sua especialidade. A circunstância de na sua especialidade não haver muitos outros coleccionadores – na verdade, até onde sabia, era o único – não diminuía a constatação. Era o maior, sim senhor, e ainda para mais era o único. Com muita honra, e hoje com uma vaidade que quase o fazia rebentar. O olhar embevecido de Arsénio Vidal percorreu uma vez mais a sala onde guardava a colecção. Do chão ao tecto perfilavam-se as pequeninas gavetas, cada uma com a sua etiqueta e o seu número, todas muito ordeiras no belo móvel em carvalho, parecido com aqueles que há nas farmácias. Mas só parecido. Como o conteúdo era diferente, Arsénio Vidal tivera que mandar desenhar e fazer, de raiz, o seu próprio mobiliário. Tudo, naturalmente, do seu bolso; nada de subsídios nem apoios. Embora fosse uma colecção sem rival no planeta, neste país, já se sabe, estas coisas não contam. Arsénio Vidal deu de ombros, não queria que os ressentimentos viess...